Há quase 20 anos escuto descrições de dores emocionais. Todos os relatos, por mais que sejam diferentes, trazem em si um objeto em comum – a potência da dor emocional. Ela é tão insuportável que, se não houver o devido cuidado, eu mesmo, de tanto conviver com ela, acabo sendo invadido e assolado. A verdade é que, de tanto vê-la e de tanto escutá-la, eu acabei por ficar calejado no enfrentamento da mesma. Quando alguém sente uma dor não localizada, como as dores emocionais, é muito sofrido, pois ela vai tomando conta de tudo. Ela toma conta do corpo, do sentir e do pensar. Ela incomoda independente de você estar desperto ou dormindo. Ela acaba por limar os sonhos. Ela esbagaça o equilíbrio. Ela traz medo do futuro, pois, caso ela continue, não se pode nem projetar ou pensar um futuro. Para ela, não há opióide, analgésico ou antídoto imediato. Como ela é ruim! Todos que padecem dela falam a mesma coisa. É por isso que admiro tanto a psiquiatria e os/as colegas psiquiatras, pois não é fácil ter como função de ofício o ato de encarar, diariamente, a dor emocional. Tem dias que, ao chegar a minha casa, sinto como se um espectro tivesse sugado minhas forças. Certamente, isso significa uma espécie de radioatividade que a dor emocional propaga. Mesmo assim, vale muito a pena. Na grande maioria das vezes, o psiquiatra não tem exames ou procedimentos específicos capazes de brecar a instalação das dores emocionais. Tudo o que fazemos é iminentemente clínico, ou seja, tudo é produto de uma escuta e de um acolhimento afetuoso. A partir desse envolvimento, a terapêutica que combaterá a dor emocional nascerá e prosperará. De uma forma ou de outra, nós, psiquiatras, somos anteparos para essas dores externas. Portanto, para quem faz uma boa psiquiatria, a missão é cansativa e desgastante, todavia de uma magnitude e uma beleza sem igual dentro de toda a medicina.
Régis Eric Maia Barros